Lendas Antigas de Campo Largo
O primeiro proprietário das terras de Campo Largo, o Capitão Antonio Luiz Lamin, conhecido também como Capitão Tigre, colocou o nome de sua propriedade de Tamanduá. A região era ponto de passagem dos antigos Caminhos das Tropas de Sorocaba (São Paulo) e do Viamão (Rio Grande do Sul) e sua localização atraiu novos moradores, que vieram compor o que hoje conhecemos como a cidade de Campo Largo.
O Tamanduá é riquíssimo
em histórias e contos sobre o lugar e seus primeiros moradores. Ainda
hoje, elas são contadas e recontadas, recordando e salientando os
grandes feitos, o valor e as proezas de alguns moradores que ficaram
famosos por diferentes motivos, não só no antigo Tamanduá, mas também na
Vila de Curitiba, nas coxilhas do Rio Grande, nos campo de Lages e
Vacaria. Nomes como Cap. Antonio Luiz Lamin (o Tigre) e os irmãos
padres: Ignácio Pinheiro e Lucas Rodrigues França, tanto ajudaram a
colonizar Campo Largo, como são personagens de diversas histórias e
lendas que fazem parte da cultura campolarguense.
CAP. ANTONIO LUIZ LAMIN, O TIGRE
O Capitão Tigre é, sem
dúvida, a figura mais famosa do seu tempo, da Vila de Curitiba e do
antigo Tamanduá. Quase lendário e ora visto como herói, ora visto como
bandido, deixou para a história inúmeros casos e tradições, aumentados e
modificados pelo povo. O pouco que sabe-se sobre ele é que era
arrendatário do monopólio da venda dos direitos da fabricação de
aguardente e dos tecidos de algodão em Curitiba. Até hoje seu nome é
relembrado em histórias verídicas ou não, nas quais os malfeitores,
covardes, mentirosos e preguiçosos tremiam só de lembrar seu nome.
Muitos deles preferiam dormir no campo, sofrendo de fome e frio, a
solicitar a hospitalidade do Cap. Tigre. Acusado por seu compadre Cap.
José Nicolau Lisboa (que lhe devia certa importância em dinheiro e negou
a dívida) de ter mandado matar sua escrava, provou a injustiça da
acusação, saindo mais engrandecido ainda da situação.
O ROUBO DA SANTA
Quando o Padre Antonio
Duarte de passo e alguns moradores do Tamanduá retiraram-se para
Palmeira, em 12 de agosto de 1818, levaram, sem conhecimento dos outros
moradores, a imagem da Santa Padroeira. Quando a ausência da santa foi
descoberta, os moradores ficaram revoltados e rapidamente reuniram-se
cerca de cinquenta cavaleiros fortemente armados que foram ao encontro
dos retirantes. O encontro se deu em um Capão, à margem do Rio dos
Papagaios, e com a circunstância foi fácil conseguir a devolução da
imagem. Vitoriosos, regressaram e foram recebidos com festa enquanto a
imagem era recolocada no altar. Por muito tempo, homens e mulheres
fizeram guarda da Capela para evitar uma nova tentativa de roubo.
Temerosos por represálias, os novos moradores de Palmeira deixaram de
passar e frequentar as terras do Tamanduá. Os moradores do local achavam
na época que tinham razão para ficarem revoltados com o roubo da santa,
que tinha fama de milagrosa. Inúmeros devotos batizavam seus filhos e
casavam-se na capela para ficarem protegidos. Do mesmo modo, considerado
um lugar de prestígio, curitibanos também procuravam o local para
realizar seus casamentos.
O TESOURO DOS JESUÍTAS
Esta
história vem do tempo da expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, e
dos moradores de Tamanduá. Embora parecendo inverosímil, existem
fundamentos para que ela seja considerada verdadeira e ainda há muitos
que acreditam nela. Antes do banimento dos religiosos, já havia sido
decretado o confisco dos bens pertencentes à Companhia de Jesus (igrejas
e seus bens, colégios e conventos, além dos bens pessoais de seus
membros). Os religiosos, ao saberem da lei, e sem esperarem por sua
execução, teriam tratado de esconder os fabulosos bens da capela. Itens
que iam de muita prata trabalhada, ouro em pó e lingotado, aos seus
próprios bens pessoais. O lugar escolhido teria sido uma das muitas
grutas e furnas existentes no sopé das Serras de Purunã e das Almas, no
Paredão. No Povinho de São João (Itambé) existe um lugar conhecido até
hoje por Jesuíta, onde os padres do Tamanduá mineraram ouro e
construíram um desvio no rio. Apenas um motivo muito importante e
valioso justificaria uma obra de tamanho esforço humano.
O TESOURO DO PADILHÃO
Chegou até nossos dias
uma história bem do gosto popular, das mais comentadas e apaixonantes: a
do Tesouro do Padilhão, sonhado e temido pelos caçadores de tesouros
ocultados e não recuperados. Trata-se de duas bruacas cheias de moedas
de ouro, mandadas enterrar por José Maria Padilha, o Padilhão, em sua
fazenda Carlos. O lugar tornou-se assombrado, pois, com as bruacas, foi
morto e enterrado o escravo que fez a cova e, por isso, o tesouro
tronou-se encantado. Conta a história que todos aqueles que foram à sua
procura nunca mais retornaram.
As
histórias que ainda fascinam e mexem com a imaginação dos moradores mais
antigos da região trazem à tona um pouco mais do cotidiano dos
primeiros integrantes da comunidade, que hoje deram origem à cidade de
Campo Largo.
Fonte: Texto adaptado do livro Campo Largo desde 1500, João Augusto de Almeida Barbosa - 1984.
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