quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Lendas Antigas de Campo Largo

O primeiro proprietário das terras de Campo Largo, o Capitão Antonio Luiz Lamin, conhecido também como Capitão Tigre, colocou o nome de sua propriedade de Tamanduá. A região era ponto de passagem dos antigos Caminhos das Tropas de Sorocaba (São Paulo) e do Viamão (Rio Grande do Sul) e sua localização atraiu novos moradores, que vieram compor o que hoje conhecemos como a cidade de Campo Largo.
O Tamanduá é riquíssimo em histórias e contos sobre o lugar e seus primeiros moradores. Ainda hoje, elas são contadas e recontadas, recordando e salientando os grandes feitos, o valor e as proezas de alguns moradores que ficaram famosos por diferentes motivos, não só no antigo Tamanduá, mas também na Vila de Curitiba, nas coxilhas do Rio Grande, nos campo de Lages e Vacaria. Nomes como Cap. Antonio Luiz Lamin (o Tigre) e os irmãos padres: Ignácio Pinheiro e Lucas Rodrigues França, tanto ajudaram a colonizar Campo Largo, como são personagens de diversas histórias e lendas que fazem parte da cultura campolarguense.
CAP. ANTONIO LUIZ LAMIN, O TIGRE
O Capitão Tigre é, sem dúvida, a figura mais famosa do seu tempo, da Vila de Curitiba e do antigo Tamanduá. Quase lendário e ora visto como herói, ora visto como bandido, deixou para a história inúmeros casos e tradições, aumentados e modificados pelo povo. O pouco que sabe-se sobre ele é que era arrendatário do monopólio da venda dos direitos da fabricação de aguardente e dos tecidos de algodão em Curitiba. Até hoje seu nome é relembrado em histórias verídicas ou não, nas quais os malfeitores, covardes, mentirosos e preguiçosos tremiam só de lembrar seu nome. Muitos deles preferiam dormir no campo, sofrendo de fome e frio, a solicitar a hospitalidade do Cap. Tigre. Acusado por seu compadre Cap. José Nicolau Lisboa (que lhe devia certa importância em dinheiro e negou a dívida) de ter mandado matar sua escrava, provou a injustiça da acusação, saindo mais engrandecido ainda da situação.
O ROUBO DA SANTA
Quando o Padre Antonio Duarte de passo e alguns moradores do Tamanduá retiraram-se para Palmeira, em 12 de agosto de 1818, levaram, sem conhecimento dos outros moradores, a imagem da Santa Padroeira. Quando a ausência da santa foi descoberta, os moradores ficaram revoltados e rapidamente reuniram-se cerca de cinquenta cavaleiros fortemente armados que foram ao encontro dos retirantes. O encontro se deu em um Capão, à margem do Rio dos Papagaios, e com a circunstância foi fácil conseguir a devolução da imagem. Vitoriosos, regressaram e foram recebidos com festa enquanto a imagem era recolocada no altar. Por muito tempo, homens e mulheres fizeram guarda da Capela para evitar uma nova tentativa de roubo. Temerosos por represálias, os novos moradores de Palmeira deixaram de passar e frequentar as terras do Tamanduá. Os moradores do local achavam na época que tinham razão para ficarem revoltados com o roubo da santa, que tinha fama de milagrosa. Inúmeros devotos batizavam seus filhos e casavam-se na capela para ficarem protegidos. Do mesmo modo, considerado um lugar de prestígio, curitibanos também procuravam o local para realizar seus casamentos.
O TESOURO DOS JESUÍTAS
Esta história vem do tempo da expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, e dos moradores de Tamanduá. Embora parecendo inverosímil, existem fundamentos para que ela seja considerada verdadeira e ainda há muitos que acreditam nela. Antes do banimento dos religiosos, já havia sido decretado o confisco dos bens pertencentes à Companhia de Jesus (igrejas e seus bens, colégios e conventos, além dos bens pessoais de seus membros). Os religiosos, ao saberem da lei, e sem esperarem por sua execução, teriam tratado de esconder os fabulosos bens da capela. Itens que iam de muita prata trabalhada, ouro em pó e lingotado, aos seus próprios bens pessoais. O lugar escolhido teria sido uma das muitas grutas e furnas existentes no sopé das Serras de Purunã e das Almas, no Paredão. No Povinho de São João (Itambé) existe um lugar conhecido até hoje por Jesuíta, onde os padres do Tamanduá mineraram ouro e construíram um desvio no rio. Apenas um motivo muito importante e valioso justificaria uma obra de tamanho esforço humano.
O TESOURO DO PADILHÃO
Chegou até nossos dias uma história bem do gosto popular, das mais comentadas e apaixonantes: a do Tesouro do Padilhão, sonhado e temido pelos caçadores de tesouros ocultados e não recuperados. Trata-se de duas bruacas cheias de moedas de ouro, mandadas enterrar por José Maria Padilha, o Padilhão, em sua fazenda Carlos. O lugar tornou-se assombrado, pois, com as bruacas, foi morto e enterrado o escravo que fez a cova e, por isso, o tesouro tronou-se encantado. Conta a história que todos aqueles que foram à sua procura nunca mais retornaram.
As histórias que ainda fascinam e mexem com a imaginação dos moradores mais antigos da região trazem à tona um pouco mais do cotidiano dos primeiros integrantes da comunidade, que hoje deram origem à cidade de Campo Largo.
Fonte: Texto adaptado do livro Campo Largo desde 1500, João Augusto de Almeida Barbosa - 1984.

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